Certo dia eu estava sentado à mesa do bar de um animado
espaço judaico, conversando com dois rabinos grandes amigos meus. Conosco
estavam sentados alguns jovens, ouvintes curiosos de nossa conversa que reunia
passagens Talmúdicas, bíblicas, histórias pessoais e brincadeiras de amigos.
Quem não conhece nossa amizade, porem, pode se assustar ao
compartilhar conosco de alguma discussão, pois quando argumentamos a respeito
de algum ponto de vista que nos importa, cumprimos, de forma lúdica, o dito
talmúdico que diz:
“Estudiosos defendendo seus pontos de vista são veementes
como inimigos numa batalha, mas não se apartam dali até que façam as pazes.”
Nossas discussões costumam ser inflamadas, porem depois que
as concluímos ficamos somente com as conclusões importantes enquanto rimos e
nos divertimos as custas de nossas bravatas, gestos e posturas exaltadas.
Mas... Voltando à mesa do bar:
Enquanto “debatíamos papo”, percebi que na mesa ao lado
havia um jovem solitário que nos observava de modo melancólico.
Ver o contraste entre nossa animação e sua solidão me deu
pena, então perguntei seu nome, etnia, classe social, interesses, e etc, de
modo a incluí-lo em nossa conversa.
Alguns “lances” mais tarde, já me sentindo mais íntimo do
jovem, questionei o por quê de sua aparência de desânimo, ao que ele respondeu:
-Estou triste e confuso. Não sei se Deus está feliz com as
minhas atitudes.
Amigo leitor, sabe aquelas cenas de televisão nas quais
alguém fala algo inesperado e todos os que estão ao seu redor ficam lhe
observando como se estivessem congelados?
Pois é! Foi assim que ficou o ambiente:
-Todas as luzes e câmeras ficaram focadas no rapaz. – A vida
ao redor havia se reduzido ao seu nível mínimo: respirações, batimentos
cardíacos e olhares. Estávamos como que em estado vegetativo.
-Depois de me reanimar, reanimaei os meus “vegetandos amigos” através de uma desfibriladora
palavra, com a qual questionei o rapaz:
-Amigo, você não me parece ter o perfil dos maiores
pecadores para estar tão preocupado! Ou.......... Tem?
-Não...
-Então por que está tão preocupado?
-É por que não sei se estou no caminho certo...
-E você está tentando?
-Sim, mas não sei se Deus está feliz comigo! Venho nas
aulas, cumpro os preceitos, mas...
-Amigo , você acha que se você fizer alguma coisa errada sem
querer, seus pais vão te compreender?
-Sim, é claro!
-E por que você acha que Deus é menos compreensível do que
eles?
-Hã?
-Se você expuser a uma psicóloga as suas falhas, você acha
que ela vai ser compreensiva, ou vai te condenar?
-Vai ser compreensiva!
-E se for a melhor psicóloga do mundo?
-Vai ser mais compreensiva ainda, pois vai ser mais
consciente das minhas limitações e fraquezas.
-E você acha que a compreensão é uma virtude ou uma
fraqueza?
-Virtude!
-Então por que você acha que Deus não compreenderia sua
busca e suas limitações? Teria Ele menos virtudes do que sua psicóloga?
Amigo leitor, sabe aquelas cenas de televisão nas quais
alguém fala algo inesperado e todos os que estão ao seu redor ficam lhe
observando como se estivessem congelados?
Pois é! Foi assim que ficou o ambiente: