quinta-feira, 22 de março de 2012

A Quinta Pergunta de Pessach

                                                                  

A quinta pergunta de Pessach.

Em um dos milhares de lares judaicos espalhados entre a Oiapoque e o Chuí, cercado por dezenas de chamas de fogo acesas em velas de azeite virgem, postadas sobre uma longa e lustrosa mesa de madeira, um bondoso e cansado pai tenta cumprir o mandamento bíblico de ensinar a seus filhos a história do êxodo dos Israelitas da escravidão do Egito, ocorrida há mais de três mil e quinhentos anos atrás:

-E então meus queridos filinhos, Vocês sabem ou não sabem o que é o chametz?
Sabemos, papai. Sabemos...
E vocês sabem por que comemos a erva amarga? O Maror?
Sabemos papai. Sabemos...
E sabem por quê...
-Papai! Nós já sabemos de tudo! - Responderam os filhos num desafiador tom de revolta - Sabemos por que comemos reclinados e sabemos por que mergulhamos as batatas na salmoura e o Sanduíche de Matzá na massa de maçã com nozes, ok?
-Mas... – pronunciou o pai entristecido, enquanto uma tímida lágrima lhe regava a enrugada face.
-Pai... Por favor, nós te amamos, porem não agüentamos mais estas suas perguntas de Pessach!
-Mas eu nem terminei de fazer a segunda e vocês já responderam as quatro! Deste jeito eu não vou conseguir cumprir com o...
-Nós já estamos cansados disso, pai! Já saímos do jardim de infância!
-Jardim de infância maninho?! Minha nora está grávida! Daqui a um mês eu serei avô! Fala sério...
-Que seja em boa hora, meu irmão! Eu ainda não sou avô, mas minha careca e minhas barbas brancas já estão me cobrando. Ou melhor, já estão cobrando os meus filhos! (Risos)
-Cuidado para não ficar para titio avô!
-(Gargalhadas).
-Vamos logo querido pai. Acabe logo com as suas explicações.  Queremos chegar às quatro taças de vinho! – Falou o mais velho dos irmãos, avô de um casal de gêmeos.
Com os olhos expressando decepção o pobre velho gritou:
-Meninos, eu ordeno que interrompam os comentários! Já compreendi a vossa insatisfação. Na realidade eu já havia previsto que isto aconteceria, portanto, apresentar-lhes hei uma nova pergunta: A enigmática e secreta “quinta pergunta”. Acho que já estão preparados para ela.
-Quinta pergunta? Que pergunta é essa papai? Não são somente quatro?
-É verdade! Só existem quatro perguntas. Do que o senhor está falando?
-Silêncio! – Gritou o pai trêmulo - Existe uma pergunta secreta. É mais um tabu do que uma pergunta. Um verdadeiro enigma.

Após alguns segundos de silêncio, marcados por preocupados e surpresos olhares, um dos filhos disse:
-Pai... Por favor, o senhor pode dizer qual é a pergunta?
-Fale logo, estamos ficando curiosos.
-Façam silêncio que eu revelarei – Disse o velho segurando uma garrafa.
-O que é isso? Uma garrafa?
- Não! Um elefante!
-Pare de gracinhas menino! Isto é uma garrafa e a grande pergunta está contida nela.
-Mas aí dentro só tem líquido.
-É um líquido preto.
-Parece que está estragado.
-Por que estragado?
-Ora! Você não viu que está borbulhando?
-Que estranho isto está parecendo...
-Uma poção mágica?
-Estou ficando assustado...
-É o elixir da vida?
-Um veneno?
-Não meus filhos! – Disse o pai - Isto é... Coca Cola!
-O quê? Coca Cola? Que maluquice, pai! O senhor não falou que dentro dessa garrafa tinha uma pergunta?
-Sim meu filho, tem mesmo e não é qualquer pergunta. É a pergunta das perguntas:

-Após meio minuto de suspense, exibindo um sorriso triunfal acompanhado de  um olhar perfurante, o pai revelou a tão esperada questão:
-“A Coca Cola é ou não é Casher Le Pessach?”
-O silêncio foi sepulcral. A pergunta, aparentemente insignificante, fora recebida como um soco no estômago dos velhos meninos, pois remetia às várias brigas e discussões que costumavam ter quando crianças, na época da comemoração pascal, devido a abstenção do “Refrescante sabor da vida”, a eles imposta por seus pais. (Já naquela época eles eram viciados na bebida).

-Mas está escrito na tampinha: – gritou descontrolado o filho do meio – “Bebida não fermentada!”.
Um flash back tomou conta dos irmãos e os ânimos se acirraram, trazendo antigas lembranças e velhos argumentos à tona. E como que para tornar o ambiente mais interessante e agitado, uma corrente de vento invadiu a sala, balançando bruscamente o grande lustre de cristais que pendia de sobre a mesa, fazendo com que emitisse agudos e cortantes sons.

-E então, meus filhos? É ou não é? – Provocou o sorridente pai.
-Bem, vejamos – Disse o caçula tentando aparentar calma – A Coca cola tem gás e talvez o processo para a obtenção do gaz seja...
-Para com isso, Eliezer! Que bobagem! O que o gás tem a ver com isso? – Disse o mais velho.
-Claro que tem a ver! Se for resultado de um processo de fermentação, deve ser proibido. Fermentou, é Chametz e ponto!
-Hum... parece que você tem razão.
-É, talvez faça sentido.

-Enquanto todos começavam a concordar com o argumento do caçula, o pai repetindo lentamente a seguinte frase, confundiu mais ainda a cabeça dos jovens senhores:
-“Nem tudo o que fermenta é chametz, nem tudo o que fermenta é chametz”.
-Como assim, pai? Nós aprendemos desde crianças que chametz é sinônimo de fermentado e por causa disso eu nunca coloquei nada que fosse fermentado em minha boca durante a festa de Pessach!
-Que pena, meu filho. Pensei que você iria tomar os quatro copos de vinho com a gente...
-Como assim, pai? O que o vinho tem a ver com isso?
-É fermentado! Vinho é fermentação pura!

Perplexidade! Essa é a palavra que melhor define o sentimento que tomou conta dos irmãos naquele momento. Afinal de contas, o velho pai tinha razão! E então... Seria o vinho proibido em Pessach? Mas... e os quatro copos? Como ficariam? Teriam nossos sábios errado ao incluí-lo na ceia pascal ou seriam eles tão dependentes da bebida bíblica que fizeram vistas grossas para poder incluí-la no Seder?

-Puxa vida papai... E então?  Como é que bebemos vinho em Pessach? Pode ser que erramos todos estes anos? Todos os judeus erraram? Moises errou? D”u...
 Após uma gostosa gargalhada o pai, satisfeito em ver seus filhos consultando-o assim como faziam em seus dias de infância, respondeu:
-Nem tudo o que fermenta é chametz, meus filhos. Esta é uma lição básica que aprendi quando criança, enquanto ainda estudava no cheider: Para um alimento ser considerado chametz, ele tem que ser feito de um dos cinco tipos de cereais, ou de seus derivados, ambos fermentados, com os quais pode ser feita a matzá!
-E que cereais são estes, pai?
-Trigo, cevada, aveia, espelta e centeio.
-Putz! E eu proíbo o leite na minha casa, por que pode fermentar...
-Eu não deixo ninguém comer chocolate...
-Se tivessem perguntado para mim...
-Mas, esperem aí! Tudo começou por causa de uma pergunta sobre a Coca Cola e a gente já falou de vinho, de trigo e de cevada, mas de Coca Cola que é bom....
-Bom? Não vejo nada de bom. Faz mal para a saúde, engorda e tem gosto ruim! Dizem até que é cancerígeno!
-Ah... La vem o natureba. Não enche, vai. Pai, afinal, Coca cola é fermentada ou não é?
-Eu já não falei que na tampinha da Coca ta escrito que ela não é fermentada? Desde pequeno eu repito isso e ninguém me da bola!
-É que você é o "filho ingênuo", Moises!!  He He! 
-Humpf! Ingênuo de 57 anos!
-E então pai? Responda: A Coca é permitida em Pessach? É chametz ou não é?
-Meus filhos a Coca Cola pode até não ser fermentada, mas isso não significa necessariamente que seja permitida. Pois nem tudo o que é proibido em Pessach é Chametz!
-Pronto! Agora confundiu de vez!
-Mas então quer dizer que Coca Cola não é Chametz e mesmo assim é proibida?
-É isso mesmo! A Coca não é Chametz e mesmo assim os judeus ashkenazim não a bebem em Pessach.
-Eita!
-Vou explicar: Há muitos anos atrás, rabinos Ashkenazim instituíram o costume de não se ingerir nenhum tipo de grão e seus derivados em Pessach, devido a semelhança destes com as cinco espécies que realmente são proibidas.
A coca Cola, assim como outros produtos industrializados, leva em sua composição um xarope de milho, que é um?
-Grão?
-Isso mesmo! E por isso, os ashkenazim não bebem Coca Cola em Pessach, a não ser que....
-Não gostem de Coca?
-Não, seu shaiguetz! Se fosse assim não beberiam nunca!
-A não ser que o xarope de milho seja substituído pelo açúcar de cana.
-Ah tá... Até parece que a Coca Cola iria substituir um ingrediente só para ser permitida em Pessach!
-E por que você acha que não fariam isso?
-Ué... Por que a Coca é a Coca!
-Então saiba que existe Coca Cola Casher para Pessach! Da uma olhadinha neste selinho de Casher aqui no rótulo da garrafa.
-Viu? A Coca é a Coca e Pessach é Pessach!
-Mas a Coca... Muda um de seus ingredientes só para a festa de Pessach?
-Ué... A história do mundo não mudou por causa da história de Pessach?
-Você tem razão! Sem esta história o mundo seria muito diferente...
-Então, se o mundo mudou por causa de Pessach, por que a receita da Coca Cola não pode mudar?
-Ta pessoal, já entendi. Agora vamos parar de falar de Coca Cola que engorda, que tem gosto ruim e que faz mal e vamos beber o nosso querido Vinho!
-Ei mas espera aí.... Vinho não é fermentado? Então é Chametz!
-Irmão, você não ouviu o que o papai explicou sobre as cinco espécies de cereal?
-Não, eu estava procurando o Aficoman! esqueceu que eu sou o caçula?

“Curta a liberade de Pessach – o Verdadeiro Sabor da Vida!”
  More Ventura! Judaísmo é atitude!


10 comentários:

alexandra disse...

fenomenal!! uma resposta que envolve os segredos mais bem guardados do mundo! poucos rabinos de altissimo nivel conhecem a resposta! hahah adorei!

Anônimo disse...

Muito bom Moré, eu sinceramente fiquei curioso e refleti sobre a pergunta!

Rodolfo Penteado disse...

Coca cola tem agentes cancerigenos, igual cigarro, o Judeu não pode atentar contra a saude do corpo que o Criador lhe deu, portanto nem casher esse troço é.

Corroi o cálcio dos ossos, o que causa osteoporose, e doses tão altas de açucar que podem levar a uma diabetes.

Desculpa, Moré, não resisti xD

Shabath Shalom!

Laércio Santos disse...

Coca-Cola é gostoso... eu gosto. Pena que em Pêssach só tem Coca-Cola Kasher em Atlanta... Mas voltando ao tema central, este post do Morè nos lembra que em cada época o judeu deve se comportar como se ele próprio tivesse saído da escravidão egípcia. Do mesmo modo como quando éramos crianças e nossos pais nos ensinavam sobre o signifado de cada elemento de Pêssach e da festa em si. Notamos que sempre, em cada ano, em cada geração, o Pêssach está presente em nossas vidas

Jacqueline sua esposa disse...

Moreeee aqui em eretss É Casherrr lepessach!!!!bjss

Anônimo disse...

Moré, no Pessach que se aproxima essa história está pronta para ser contada. Adorei e a partir de hoje sou uma das suas Talmidot. Chag Sameach

More Ventura disse...

Jacque! Queremos fotos da Fábrica da Coca aí em Israel para mostrar p os amigos do Blog!
Beijos!!!!!

More Ventura disse...

Cara amiga: Adorei saber q vai contar esta história em Pessach! Me diga depois como foi, ok?
Abração!

Daniel disse...

Meu caro Moré o seu texto foi inspirador e motivador. Depois de lê-lo eu pensei: "Achei a questão perfeita para pegar meu velhho avô em uma disputa saudavele". Assim munido do que pensei eu seria uma pergunta sem resposta fiz a ele a pergunta da Coca Cola. Ele ouviu tudo em silêncio até o final. E não só me respondeu como me fez uma pergunta: " Meu filho o Trigo é um Chametz?"
Vovô isso é fato.
E como então você explica o Matzah?
Do que ela é feita?
Passei duas noites procurando a respostas graças a coca cola do Moré!

Sandra disse...

Tive a oportunidade de celebrar a Páscoa judaica em Israel, realmente é emocionante! Convido a todos a fazer essa viajem nesse ano.


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