Numa noite
de lua cheia, há uma década e meia, enquanto pegava carona com um rabino com o
qual trabalhava numa linda sinagoga, cometi um ato de extremo descuido ao
fazer-lhe uma estranha revelação:
Eu... Então
um ingênuo rapaz de vinte e poucos anos, que despontava de forma meteórica à
carreira de professor/rabino, com o coração tremendo tal qual um indefeso pássaro diante
de um urso, dirigi minha palavra ao já experiente e calejado colega:
-“Rabino, eu...
eu estou confuso... em relação a Torah... porque a gente sempre ensina que ela
é perfeita, linda, maravilhosa, mas... quando eu presto atenção nas suas histórias...
Somente vejo simples histórias e nada mais.”
O que eu faço? – Perguntei como se lhe implorasse
por misericórdia e salvação.
A resposta do
“calejado guia” veio na forma de um rápido olhar penetrante, cortado por uma
risada que me pareceu ao mesmo tempo irônica e misteriosa.
Dupliquei a
questão e ele espelhou a resposta.
Sem graça me
despedi e saí de seu carro me sentindo violentado por minha própria estupidez,
que cruelmente me despojara de minha credibilidade e da minha aura de jovem
pio, conquistada através da voz baixa, da postura humilde, do chapéu e das barbas cultivadas nos
últimos tempos.
Como pude
ter me exposto de tal forma? – Pensei - O que será que meu colega pensara de
mim? Será que agora lhe pareço um mísero herege ou talvez ele tenha a bondade
de me considerar somente um pobre imbecil? E se por obra do “acaso” esta vergonhosa
brecha em minha fé for revelada à luz do dia? Poderei ser demitido ou Execrado
da comunidade?
Como que
procurando por uma saída, voltei meus olhos para o céu, onde assustado flagrei
espreitando-me a única testemunha de minha confissão, alem do “assustador” rabino:
A Lua cheia: Cheia de confissões,
cheia de testemunhos e cheia de segredos.
Tudo conspirava contra mim; O rabino,
eu mesmo e a Lua!
Hoje, sentado
confortavelmente em meu sofá, leio este meu desabafo, rindo e me apiedando – do
“jovem Eu”:
Pobre
rapaz...
Mal sabia
ele que vários dos maiores ícones de nossa religião, como por exemplo: Abrahão,
Moises, Jacob e Maimônides, foram alçados às alturas, justamente após embarcarem
em grandes questões as quais trariam grandes respostas não somente a eles, mas
também a bilhões e bilhões de pessoas de todos os tempos e de todo o mundo.
Mal conhecia ele o poder contido no núcleo de uma pergunta sincera, mesmo quando levantada por simples mortais como nós...
Quem sabe
não era esse o motivo por trás do sorriso do rabino...?
Ps: A Ètica dos Pais diz: "Assim como o envergonhado não pode aprender, o severo não pode ensinar!"
Para saber como conitnuou essa história acesse o Link abaixo:
http://moreventura.blogspot.com/2012/01/minha-resposta-para-falta-de-resposta.html
Ps: A Ètica dos Pais diz: "Assim como o envergonhado não pode aprender, o severo não pode ensinar!"
Para saber como conitnuou essa história acesse o Link abaixo:
http://moreventura.blogspot.com/2012/01/minha-resposta-para-falta-de-resposta.html
Abraços! More Ventura!
8 comentários:
Muitas vezes, nossos olhos e mentes ficam perplexos com a grandeza do sagrado Torah dentro da sua infinita sabedoria, e mal percebemos que esta grandeza também está presente nas pequenas histórias que nossos guias, rabinos nos revelam.
Eu acredito que o olhar profundo do rabino quiz mostrar para ele a alegria que ele sempre tem quando descobre a grandeza do sagrado Torah nas pequenas coisas, e até mesmo numa letra, ou numa pequena frase que ele compartilha com todos.
Aprendi que cada letra do sagrado Torah são preciosos e que escondem grandes mistérios. Shalom....(?;o)
Só tenho que lhe dar os parabéns,pela coragem que você teve no momento,em que fez a pergunta ao Rabino.
Todo aprendizado inicia-se com uma pergunta... Uma questão...E apreendemos somente quando aprendemos com nossos erros...A Torah é para ser Experenciada...
Grandes respostas surgem depois de grandes dúvidas.
É isso aí, Ventura. Golaço! Que saibamos sempre perguntar, questionar (são virtudes). Mas que saibamos também ouvir, receber, com a pureza de quando éramos crianças, a humildade que esperamos que nunca nos deixe e o discernimento que a reflexão nos traz. Abraço carinhoso, Chazan e More Beto Barzilay.
Como fica o filósofo judeu Baruch Spinoza , excomungado pelos rabinos diante disto ???
As crenças judaicas evoluem ou são dogmáticas ???
Nosso D´us maravilhoso usa de simples histórias, de simples e humanas pessoas, com êrros e acertos, dificuldades e más inclinações, para nos mostrar a fôrça da sua Fôrça, e o amor do seu AMOR, e a misericórdia da sua Misericórdia!!Basta apenas dizer nosso SIM, e amá-lo com todo o nosso coração!!!E o impossível das simples histórias, se transformam em histórias de salvação e luz para as nossas vidas!!!Com carinho Aliza
Shalom Rabino!
Hum, interessante! Suas palavras estão carregadas de misticismo, porém, me respondeu uma pergunta que andava em minha mente, depois de ter questionado um Rabino com uma dessas perguntas que eu mesmo senti vergonha depois - ainda que eu estou bem longe querer me comparar com os Tsaddikim como Abrahão, Moises, Jacob e Maimônides, porém que estuda a Torah, é assim. Obrigado, simplesmente!
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