segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Comentários de uma ex-criança sobre o "Pinheirinho."



                     


Comentários de uma ex-criança sobre a matéria de um jornal a respeito da “desocupação” da favela do Pinheirinho.

“Desocupação da favela do Pinheirinho deve ser concluída nesta quarta...”
Quando eu era pequeno, minha avó Raquel gostava de pegar pequenos pinhos que caiam dos pinheiros e usá-los como suporte para as velas do Shabat. Naquela época era isso que chamávamos de PINHEIRINHO.

“Está na etapa final o trabalho de demolição das casas...”
Quando eu era pequeno, enquanto esperava meu pai voltar do trabalho, eu sempre imaginava o quanto este devia ser construtivo e benéfico. Naquela época não poderia supor que um dia a palavra trabalho poderia ser associada à destruição de casas habitadas por adultos e crianças.

“A operação de derrubada das casas transcorre sem problemas com os ex-moradores. Poucos ainda acompanham os trabalhos.
Quando eu era pequeno, chamava o escuro e o medo que eu tinha de fantasmas de grandes problemas. Não sei nem como chamaria a derrubada de nossa casa, ainda mais se estivesse acontecendo na minha frente e na frente de meus pais e irmãos.

“A polícia também apreendeu, dentro da favela, quatro veículos, entre eles uma motocicleta de luxo parcialmente desmontada.”
Quando era pequeno aprendi com meus pais que não podia concluir que um grupo de pessoas era mau só por causa do que uma minoria delas fazia. E também aprendi com minha fessora de matemática que para se roubar quatro veículos e uma moto, uma ou duas pessoas já seriam o suficiente!

“o terreno deverá ser entregue à massa falida da empresa Selecta, do ex-investidor Nagi Nahas.
Quando era pequeno, ouvi pela primeira vez que um homem podia roubar muito dinheiro, mesmo sendo rico e chique e que depois de pagar para a polícia, podia ser “desculpado” de seus erros, deixando assim de ser preso e podendo voltar para sua luxuosa casa.


Quando eu cresci, aprendi que para liquidar suas dívidas, o homem que pagou para a polícia para poder voltar para sua casa, teve o direito de derrubar as casas de um monte de pais, mães e filhos que não tinham mais onde morar.

Quando eu cresci, aprendi que Pinheirinho não servia mais pra nome de enfeite...


Quando aprendi que Pinheirinho não podia mais ser nome de enfeite, aprendi eu que não podia mais ser criança...




More Ventura!

2 comentários:

Eduardo Goulart disse...

More, seu texto poderia, deveria estar ao alcance de milhões de pessoas, as mesmas que aceitam o que parte de noticiario manipulador empurra goela a baixo. Há noticias manipuladoras, com interesses escusos mas há tb pessoas escrevendo com compaixão, ou seja, sentindo a dor do outro, se colocando no lugar, é esse o seu caso.

Germaine Segall disse...

Um poema em prosa.Um poema do coração da dor, da saudade, de amor fraterno, de amor de pai.O restante do comentário ,por enquanto,é mental.