Tempo - Terça
feira. O relógio do edifício do Banco Itaú na Avenida Paulista “badalava”
quinze horas e trinta minutos.
Espaço – A
congestionada Rua Augusta.
Sujeito - Indefinido,
tentando se definir no tempo e no espaço anteriormente citados: Eu!
Você deve conhecer bem a sensação que temos quando estamos
atrasados, não é amigo? É uma sensação nada boa, ainda mais se o atraso puder significar
a perda de uma atividade significativa ou de um encontro esperado.
E no meu caso, a atividade era um encontro de cunho
interreligioso na cidade de Taubaté, promovido pelo amigo Samuel Luz,
presidente da Ablirc.
Para chegar à terra natal de Monteiro Lobato, eu deveria ir ao
Páteo do Colegio, marco da fundação da cidade de São Paulo, onde pegaria uma
carona. O horário da partida era 16:30 e eu ainda tinha que ir para minha casa,
tomar banho e me trocar. Não podia parar para nada. Mas e se...E se o encontro
começasse ali mesmo, na rua Augusta?
-Pois bem! Ali estava eu andando à passos largos, recém saído
da academia de ginástica, com o corpo inchado pelos exercícios e com a cabeça,
coberta pela quipá, pensando no mais
forte e espiritualizado rei que já existiu na face da terra, o rei David!
Existiria contradição entre a busca da força física e o culto
ao Eterno?
Seria a condição franzina de nossos antepassados nos últimos
séculos uma condição ideal causada por uma vida voltada ao estudo e a oração,
ou seria mais uma anomalia gerada pelo isolamento, discriminação e pobreza
vivida por eles?
Enquanto tais pensamentos me agitavam a cabeça, passei na
frente de uma lan-house aberta para a calçada. O que vi ali? Uma cena menos
comum em São Paulo do seria em Jerusalém:
Um rapaz negro entretido no computador usando uma quipá em
sua cabeça!
Ops! Pensei comigo mesmo, acho que o encontro já começou...Nao
sei se será inter ou intra-religioso, mas com certeza é um encontro! (Os
encontros marcados por D’us nem sempre tem lugar e hora pré-definidos.)
-Shalom, disse eu esperando uma resposta.
-Shalom – respondi eu mesmo, para não me deixar no vácuo.
O que você faria no meu lugar, amigo? Iria embora? Olharia
com desdém o rapaz que acabara de lhe ignorar? Fingiria estar falando ao
celular? Pois eu não deixei barato e fui “tirar satisfação”:
-Ola! Bonita a sua quipá! Você é judeu?
-Não! – Respondeu meu interlocutor. Logo concluí que o
encontro não seria intra-religioso.
-E a quipá? – Perguntei eu, agora ainda mais curioso.
-Ah, sim - Respondeu o rapaz – Essa quipá eu ganhei de um
amigo judeu. Achei legal e decidi usar.
-Puxa, que bacana! Sabe irmão, eu sou professor de cultura
judaica e tenho uma coleção de fotos que retratam não judeus usando símbolos
judaicos. Pretendo mostrar através dessas fotos que mesmo preservando nossa
individualidade, compartilhamos com os irmãos de outras culturas, interesses e
valores em comum. Será que eu poderia tirar uma foto sua?
-Claro que pode, amigo! É um prazer!
Tirei a foto, agradeci e me despedi. Ao ver o atraso em que
havia me colocado, desisti de andar... e saí correndo!
Ao chegar em casa, tomei meu banho e vesti minha armadura,
coleira e ferraduras, (Não sei se você gosta de usar roupas sociais, mas é
assim que eu chamo as gravatas, ternos e sapatos de couro. Não os suporto!)
Quando estava quase saindo de casa, pensei:
-Vou levar uma quipá no bolso, talvez a dê de presente para
algum representante de outra religião. Será um gesto simpático!
Depois de cinqüenta minutos, já estava mudada a configuração
da oração:
Espaço – Praça de
Sé.
Tempo – 16:20 Hs
Sujeito - quase
definido: Eu!
Enquanto me preparava para atravessar a rua para chegar ao
meu destino, passou por mim um jovem de boina na cabeça, que me chamou a
atenção pela forma “atenciosa” como olhou para a minha quipá. Em centésimos de
segundo, percebi que o rapaz usava uma estrela de David pendurada numa corrente
no pescoço e me virando, disse a ele:
-Ei moço, desculpe te incomodar, mas posso fazer uma
pergunta?
Sem desgrudar os olhos da minha quipá o rapaz consentiu em
responder.
-O que simboliza esta estrela que você esta usando?
-Ah, sim! – Disse o rapaz - Esta é a estrela de David. Eu
tenho “tudo do Rei David”! Já comprei enfeites, camisetas... tudo! Na verdade
admiro muito a cultura judaica e estudo muito a Bíblia. A única coisa que não
encontrei em nenhuma loja é este chapeuzinho que vocês usam. Já procurei em
vários lugares e não achei.
Quase que instintivamente, sob meu olhar complacente, minha
destra adentrou o meu bolso e de La tirou a dádiva para o rapaz, que com um sorriso
digno do versículo: “...Então a nossa boca se
encherá de sorriso e a nossa lingua de
alegria.”, a vestiu, louvou ao Bom D’us e seguiu o seu caminho,
enquanto eu... segui o meu.
(Dizia o Rabi Nachman
de Breslev: O Bom D’us espalha sinais por todos os lados e o nosso papel é simplesmente
encontrá-los!)
Viva o dialogo Inter religioso! Viva a cultura de Paz!
11 comentários:
More o q mais procuramos dentro de nós e... ao redor?
Simplesmene a PAZ..
Paz de espirito,paz no dia a dia,
PAZ.. fundamental para vivermos e sobrevivermos...
P-POVO
A-AMOR
Z_ZELO.
VIVA A PAZ!bjss doces!
É verdade Ahavá! (Jacque!)
Paz é a maior benção que existe, não é a toa que Shalom, Paz, é um dos nomes pelo qual o Eterno é chamado.
Viva a Paz, Jacque ! Beijos e Parabéns neste dia do seu aniversário.
Que o Bom D'us nos abençoe com muito amor, felicidade, saúde e Paz!
Quipazando geral! Parabéns Moré!
Através de pequenos gestos mudamos o mundo. Uma vez um amigo me disse "Sabe quanto essa quipá pesa? Pesa uma tonelada" No inicio não entendi. Conforme o tempo passou vi que a quipá não nos aproxima somente de deus na hora da reza mas nos torna representantes de toda uma ideologia sobre o judaismo. Seus grandes gestos com certeza mudaram a vida dessas pessoas. Obrigado
More, o titulo tá perfeito, chama a atenção e é isso aí, quem é yehudi diga sou e daí e quem é goy diz tb, encha o peito... Nao tem como nao elogiar amigo, vc sabe que tem um coração especial, sua família toda é assim, vcs escolheram ver as pessoas, enxergar além do grupo e isso tem ajudado o judaismo em SP, a eternidade vai revelar isso. Galera vamos fazer o mesmo, abraçar e nao afastar.
Oxalá se alguns rabinos seguisse seu exemplo, teriamos um mundo melhor..
vc é um orgulho para nossa religião moré!!!
muito bom more e que continue assim
Abençoados os sinais e mais abençoados ainda aqueles que os reconhecem e os seguem.Shavua Tov.
Abençoados os sinais e mais abençoados ainda os que os reconhecem e os seguem.Shavua tov.
Grande Moré! é isso mesmo Ahava e Shalom!
Shavuá Tov!
Lindo , More.... adoro sua humanidade quase inacreditável em tempos de desumanização do ser humano...
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