quarta-feira, 2 de novembro de 2011

E a vida o que é ? Diga la meu irmão!


Existe um dito do Rei Salomão que diz: “É melhor ir para a casa do enlutado do que ir para um banquete, pois esse é o fim de todo homem, (a morte física), e o vivo deve incorporar, (essa mensagem), em seu coração .” (1)
No Talmud consta: Os justos mesmo quando falecem são chamados vivos e os perversos, mesmo quando vivos, são chamados de mortos. (2)
Depois de citar estes dois ditos e antes de concluir alguma coisa sobre eles, quero analisar duas questões referentes á passagem da Tora que envolve o assunto “morte” de uma forma chocante:  O Sacrifício de Isaac. (3),  a passagem onde o Criador ordena que Abrahão sacrifique seu filho para Ele.
-Como Avraham acatou uma ordem dessas?
-Como D’us pediu algo assim para ele ?
Vou escrever aqui o que eu penso, obviamente sem a pretensão de dar uma resposta definitiva e absoluta.  Essa é apenas a minha opinião:
-A dificuldade que encontramos ao tentar resolver estas perguntas se origina em um erro de formulação, pois estas questões tem em sua composição uma mistura de dois sistemas de valores contraditórios: O nosso, (tentando nos colocar no lugar de Avraham), e o de Avraham, (que tinha um sistema de valores completamente diferente do nosso) !
-Na visão de mundo contemporânea, (a “nossa”), o corpo, a saúde, a beleza física, a força e a imagem são temas principais. Portanto o fim da vida material significa a morte de todos estes assuntos centrais de nosso dia a dia, ou seja é "A" MORTE !
-Na visão de mundo de Avraham, a busca pela verdade, o amor ao próximo, a fé e a ”vivênciaespiritual são o centro de tudo e com a morte física nada disso se extingue, ao contrario, estas vivências, por serem de ordem  espiritual somente se reforçam.
Mais uma diferença entre nós e Avraham:
Em nossa sociedade buscamos ter o controle de absolutamente tudo, deixando pouco espaço para a fé. Achamos que podemos e devemos estar sempre no comando, deixando pouco espaço para D’us em nossas vidas. Não seria isso o reflexo de uma fé fraca e relativa ?
Avraham, por outro lado, também teve suas dúvidas e dilemas, porem, através de sua busca sincera e experiências intensas, ultrapassou o conceito de fé, chegando ao nível de conhecimento do Criador e de seu poder.
Enriquecidos por estas reflexões, podemos concluir que no caso de Avraham a ordem de oferecer o filho em sacrifício não significava a mesma morte e extermínio que significaria em nossa sociedade atual, portanto tal ordem não era absurda, (no contexto mental de Avraham), quanto pode nos parecer.
Certamente, (pensava Avraham), se fosse consumada a oferenda, este ato traria consigo, entre outros sentimentos, saudades, mas estas saudades viriam acompanhadas da certeza de que este filho estaria na outra dimensão, tendo chegado através de um ato de sacrifício ao Criador que certamente o recompensaria por isso. Além disso, como conhecedor do campo espiritual, Avraham tinha certeza de que seria somente uma questão de tempo o reencontro com seu filho Isaac.
Depois de compreendermos a grandeza do nível espiritual ideal, que não se baseia em fé, e sim no conhecimento do Criador e do mundo trnanscedental, podemos compreender o objetivo dos dois ditos citados no início do artigo: Mostrar que a verdadeira vida é aquela focada na nossa essência, no que FICA, no desenvolvimento de nossos potenciais emocionais e espirituais, que são a manifestação de nossas almas nesta vida terrena, de modo a termos uma vida serena, mais plena e coerente com nossos anseios mais profundos de eternidade, felicidade, justiça e paz, pois esses sim são estados que mantem o ser humano pleno e feliz!
No final, D’us não quis o sacrifício físico do filho de Avraham, e sim a transformação, a mudança de perspectiva:  A Vida espiritual é Eterna mesmo “após a vida” – A vida destituída de valores é Morte, mesmo “em vida”.
Muita Luz, Vida, Paz e Felicidade para todos.
More Ventura.

(1) Eclesiastes 7/2
(2) Talmud Yerushalmi  brachot 15 B
(3) Genesis 22

Um comentário:

More Ventura disse...

Também podemos ver esta perspectiva inversa da nossa em outras épocas e outras culturas: Em seu livro “O Poder do Mito”, Joseph Campbel cita dois costumes antigos que colocavam o auto-sacrifício espontâneo como algo compreensível e louvável. Uma das situações se dava num torneio esportivo, (acho que entre os Incas), onde o prêmio do vencedor era ter a honra de ser sacrificado á divindade que cultuavam. A outra situação acontecia na India, onde Yogues entravam em estado de meditação profunda e ao chegar no “ponto ideal” sinalizavam aos responsáveis para que os sacrificassem.