-Boa noite
José! Como vai? Eu vou bem obrigado. Passa em casa depois pra pegar aquele
bolo. Um abraço, até mais!
Venha
amigo, por aqui. Hoje não usamos a campainha: Hoje batemos na porta. Já já te
explico os costumes do Shabat e os seus motivos, ta bom?
-Oi
querida! Shabat Shalom!
-Sim foi
ótimo! Sabe quem estava na sinagoga? O Aron, o Jacquito e o Dudú. Talvez eles
dêem um pulo aqui mais tarde. Vai ser divertido!
-Hum... que
cheiro delicioso! Daqui a pouco não vai sobrar nem.... Ah ah! Acertou! Já esta
aprendendo, amigo! Nem cheiro!
-Agora
vamos para a mesa. Tá bom crianças, vocês podem se sentar ao lado do nosso
convidado. E você senta aqui do lado da Mamãe.
Agora vamos
cantar o Shalom Aleichem que significa “Que a Paz esteja sobre vocês”. Nesta
canção saudamos os anjos do Eterno que nos acompanharam desde a sinagoga até
aqui. É uma tradição muito antiga.
Pega aqui o
sidur, está na página 274:
Agora
cantamos o Eshet Chail, que significa Mulher virtuosa. É uma homenagem que
fazemos às nossas esposas e mães por todo o cuidado que elas tem com o lar,
(alem da jornada dupla, é claro!), e especialmente pela linda mesa e pelas
refeições do Shabat que temos aqui. Este texto foi composto pelo rei Salomão e está
no livro dos provérbios, no capítulo trinta e um.
O
interessante desta poesia é que ela tem vinte e duas frases, cada uma delas
começando com uma letra do alfabeto hebraico, indo da primeira até a última
letra:
Agora
vamos ficar de pé e vamos fazer o kidush. Nele proclamamos a santidade do Shabat.
O primeiro
trecho do Kidush fala sobre o término da obra do universo no sexto dia da criação e sobre
a santificação do sétimo dia.
No segundo
trecho agradecemos ao Bondoso D’us por ter nos dado este tão maravilhoso
presente, que dá sentido e orientação às nossas vidas: O dia do Shabat!
Agora
terminamos o kidush e vamos....
Comer? Não!
Ainda não. Agora nós vamos fazer o Netilat Yadaim, que é a lavagem ritual das
mãos.
O
significado desta lavagem é o seguinte:
Nossa mesa
é considerada um altar, nossa refeição é considerada uma oferenda e nós, sacerdotes
do Altíssimo. Por isso, nada mais correto do que lavarmos nossas mãos e nos
prepararmos para servir ao Criador.
Filho, por
favor ensina o nosso amigo como se faz o Netilat Yadaim. Isso! traz a toalha
pra ele secar as mãos. Não meu filho, pega a outra, essa toalha é de banho! Tsc, tsc,
essas crianças...
Depois do
Netilat Yadaim ficamos em silêncio até fazermos a benção da Chalá, o pão trançado
do Shabat:
-Baruch Atá... Bendito És Tu, Rei do universo
que fazes sair pão da terra!
-Amen!
Aqui está:
o primeiro pedaço vai para a esposa, o segundo para o amigo e agora... as
crianças. Beteavon! Bom apetite!
-Hum... Que
Chalá deliciosa! Aonde você comprou?
-É a chalá
do Matok é sempre ótima mesmo!
-Amigo, nós
costumamos ter dois pães na mesa do Shabat para lembrar-nos da porção dupla de
Mana que caia nas sextas feiras no deserto, quando do êxodo do nosso povo do
Egito rumo a Israel. Cada dia da semana caia apenas uma porção, suficiente para
as refeições daquele dia. Na sexta feira caiam duas porções, para que no Shabat
os nossos antepassados não tivessem o trabalho de procurar e transportar seu
alimento.
-Agora você
pode se servir a vontade, sinta se em casa.
Antes do
prato quente a gente costuma comer peixe acompanhado de Chalá, saladas e patês.
Nossa mesa é bem diversificada: Temos Tahine, Humus, Guefilte fish e outras
iguarias.
-O guefilte
Fish é este bolinho de peixe. A origem dele é muito interessante: Existe um
costume de se comer peixe no Shabat, mas houve épocas em que muitos judeus não
tinham dinheiro para comprá-lo. Então como eles faziam? Pegavam um pouquinho de
caldo de peixe e misturavam com miolo de pão. Assim se formaram os primeiros
guefilte fish, que com o passar do tempo ganharam mais sabor e sofisticação.
-Que
maravilhoso este Guefilte-fish! Você que fez?
-Delicioso,
não é?
-Este patê
se chama Hilbê, conhecemos em Jerusalem na casa de um casal de senhores
Iranianos. Iamos jantar com eles quase todos os Shabatot. Nos recebiam como filhos,
se chamam Mazal e Daniel. Era incrível a hospitalidade dos dois. Pessoas
simples, com um coração enorme.
-Hum... Que
delicia!
-O que você
quer filhinha?
-Claro,
daqui a pouco a gente canta! Qual música
você vai querer cantar?
-Beleza,
daqui a pouquinho, ta bom?
-Fofa! As crianças
adoram uma música!
-Filho, passa
a Chalá, por favor. Amigo, você aceita um copo de vinho?
-Não, este
está sem gelo, se quiser gelado eu tenho também, mas o vinho gelado é seco,
você gosta?
-Crianças,
qual é o nome da Parasha?
-Muito bem:
Toldot!
-E qual o
nome dos filhos gêmeos de Itschak e
Rivka?
-Ceeeerta a
resposta!!! Essav e Iaakov.
-Desculpem,
só um pouquinho, crianças:
-Amigo, vou
te explicar o que é Parasha.
-O ano é
dividido em cinqüenta e duas semanas. Cada semana a gente lê uma Parashá, ou
seja, uma parte da Torah. Depois de um ano completamos a leitura da Tora
inteira.
-A parasha
desta semana fala sobre a história dos irmãos Essav e Iaacov, o caçador e o
pastor, filhos de Isaac e Rebeca, que disputaram a benção do filho primogênito,
necessária para se obter a liderança do clã após o falecimento do pai.
-Ah, sim!
Falei os nomes em hebraico. Itzchak é Isaac, Yaacov é Jacob e Essav é Esaú.
-Filhos, agora
eu vou fazer uma pergunta para vocês pensarem:
-Por quê
depois de Itzchak ter descoberto ter sido enganado por Yaacov, ele não considerou
a benção “roubada” por este como anulada e a passou para o primogênito Essav?
Vão pensando e depois vocês respondem, ta bom?
-Oba!!!
Agora chegou a comida quente. Abobrinhas, berinjelas e pimentões recheados. Com
um pouquinho de tahina, hum.... fica uma delicia!
-Abobrinha?
Aqui está! Vai mais vinho ou suco? Beleza! Dá o seu copo.
-Querida, a
comida está maravilhosa, Parabéns!
-Sim, você
tem razão. Dizemos que a comida vai de acordo com as visitas! Então se a comida
está boa é por sua “culpa” amigo!
-Bom
apetite! Hum...
-Quem quer
cantar?
-Vamos
cantar uma música linda que se chama Shiru Lamelech, Cantem para o rei:
-Gostou da
musica?-Claro! Se
eu achar no Youtube eu te mando.
-Não, hoje
eu não posso mandar, mando amanhã, porque... Xiii, eu me esqueci de te explicar
sobre a eletricidade no Shabat... Então preste atenção amigo:
-Está
escrito que D’us criou o mundo em seis dias e que no sétimo dia Ele se absteve
de criar, abençoando e santificando este dia.
Para nos
lembrarmos disso de corpo e alma, a Torah nos orienta a não trabalharmos, não
criarmos e não interferirmos na natureza neste dia. Por isso devemos evitar criar
qualquer objeto ou elemento, mesmo através de corrente elétrica.
-Realmente
isso é interessante, porem se abster de criar é apenas o inicio de um caminho
que deve nos levar ao paraíso mental e emocional da conexão com nossa essência
espiritual, com o Divino. Isso fazemos através da oração, do estudo, das
canções, da reflexão e da expressão da amizade e amor ao próximo.
Agora vamos
falar de amor ao próximo.... Prato!
-Quem quer
sobremesa???
-Hum...
acho que hoje tem pudim de berinjela...
-Êêêê!
Sorveteeeee da tia Monica e da tia Carla! É o melhor do mundooo!
-Vamos
fazer a brachá, a benção de agradecimento pelo alimento:
-Baruch Atá
Ado-nai Elo-heinu Melech Haolam Shehakol Nihia Bidvarô. Traduzindooo: Bendito é
Tu nosso D’us que criou tudo através de seu verbo.
-Sim amigo,
cada vez que comemos ou bebemos alguma coisa, agradecemos ao Criador.
-Delicioso
o sorvete! Quem quer mais?
-Espera aí
que eu vou colocar a cobertura.
-Agora que já comemos, bebemos e conversamos, vamos fazer o Birkat Hamazon, a oração de agradecimento pela refeição. Normalmente fazemos esta reza em hebraico, mas hoje, já que temos uma ilustre amiga cantora em nossa mesa, vamos pedir para ela cantar o Birkat Hamazon em Ladino, o idioma que os judeus falavam na Espanha, que é parecido com o português para você poder compreender o que falamos:
-Amen!
-Epa... estava quase me esquecendo da
pergunta que eu fiz sobre a Parasha? você quer responder?
-Hã?
-Porque você não responde?
-Estou falando
com você que está lendo. Afinal você é a nossa visita!
-Estamos
adorando ter você conosco!
-Se quiser
tentar uma resposta, “fale” para nós no espaço para comentários abaixo.
-Um grande
abraço e muito obrigado pela visita!
Shabat
Shalom e volte sempre!
4 comentários:
Apesar de Essav cumprir kibud av va em.. Itzchak sabia que Yaacov geraria as 12 tribos.
O texto trouxe de maneira didática a genuína seudá de shabat.
Muito bom More!!! Aprendi muita coisa hoje...
Impecavel, pedagógico e poético ... este texto e outros mais darão uma bem vinda publicação.
Você é um danado, Moré!
Abraço saudoso,
Clovis R. S. Filho
Shalom,gostei muito das coisas que escreveu,nossa...maravilhoso!Eu tbem quando estava no Brasil ia em uma sinagoga,muito belo,o Senhor era presente,nao tenho palavras pra expressar como vcs sao queridos ao S
enhor.eu amo tds vcs em tds as partes do mundo!Shalom!Zulina
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