domingo, 30 de outubro de 2011

Nordeste Shel Zahav - (De ouro) - O retorno dos "Anussim" !



Vento sopra nas nuvens, sobre o mar tranqüilidade
Com maestria e sutileza, borda nós de liberdade
O azul do oceano espelha semblante de gente
que é Goyaz, é povo forte, vindo ao novo continente

Professando em voz alta, a Torah de Israel
De sua boca sai o salmo, reverbera pelo céu
Proclamando a unidade, do Deus único e soberano
Vento seca em terra seca as lagrimas do marrano

Mas o vendaval soprou nas dunas, fronte ao mar tempestuoso
E Moldou com sua fúria, um formato pavoroso
Vermelho tinto o oceano, fervendo refletiu gente
Que para espalhar terror, chegou do velho continente
Para cravar a sua fé, como suprema verdade
sob as dunas soterrou, do judeu a identidade

Formas das nuvens dos céus, soterradas pelo pó
O judeu foi delatado, em hebraico Mossoró
Escapou sobrevivente, se tornou um Seridó
Agora é camponês, que na Judéia é Acari
Escondeu baixo da cruz, a estrela de David

Ocultou na carne seca, salgamento ritual
Sob as pedras da cruz, enterrou o memorial
A rua do Bom Jesus, cobre a rua dos Judeus
O chapéu do cangaceiro, disfarça quipa oh Deus !

Melodia do aboio
é o que sobra do salmista
No salmo noventa e um Mezuza é só uma pista
A toura ta na cocheira
em segredo é a Torah
Deu pra vê até o chifre
é o cabo de segura

Sob a  batina do padre, o rabino se afoga
A sombra da igrejinha escurece a sinagoga
Dá  verruga apontar, pras estrela lá do céu
é pretexto pra oculta, Shabat num escuro véu

No lugar de enlutado, a palavra é Avelino
Uma lagrima encarcera, o sorriso do menino
Encarcerada na risada
lágrima é alusão
Represada por barragem, que alude à inquisição

Mas como tudo é Maceió, quer dizer atos de Deus
após a Ceará, tempestade sobre os judeus,
a chuva convida o vento, que as dunas vai soprando
desvendando sob a areia
o semblante de um humano
ressuscitando das cinzas, os ossos secos do marrano

Das pedras do cemitério desvenda o memorial
tirando baixo da cruz a estrela nacional
Revela que carne seca é salgamento ritual
põe chapéu de cangaceiro com a estrela de David
vai a rua do Bom Jesus a dos Judeus encontra ali

La reconstroi o seu templo
cantando como salmista
No umbral da sinagoga Mezuza prega a vista
Lugar do touro é na cocheira
da Torah na sinagoga
Junto ao  rabino abóia, ao Deus infinito roga
Vê a criança apontando pras estrelas la do céu
Recebendo o Shabat a noiva de Israel

Rasga o choro do enlutado nascimento do menino
que nasceu com o nome Brites sobreposto ao Avelino
É o retorno do marranos
depois de tantos anos
pelas mãos do pai do céu
à nação de Israel.               

Autoria de More Ventura 


5 comentários:

Eduardo Goulart disse...

More, esqueci de te falar, eu sonhei ha umas duas semanas com a Inquisição, foi punk, nem tinha visto nada sobre isso, fazia tempo q nao me ligava nessa parte da historia judaica... Mas no sonho eu via mulheres sendo arrastadas, os filhos, vi algumas torturas e todos eles tinham as roupas da época, algumas eram de cor meio anil, roxa, vinho, e a cor do sonho era sempre sombria, como se fosse a noite, na madrugada. Uma coisa que me impressionou foi a força no rosto dos forçados pelos padres que os levava. Uma mãe morreu e o filho converteu, acho que era isso. Eu acordei com o coração acelerado e com vontade de chorar. Senti e escrevi isso "Dentro em mim, comigo, habita uma alma que viveu há séculos em meio ao povo do Livro. A resposta para olhares curiosos ou altivos é esta, meu sangue vem de longe e é legitimo, religar é preciso para honrar os forçados. Quem lê entenda"!

Anônimo disse...

Muito bonito Ventura, adorei a sensibilidade e intimidade com nossa estória.
Sou do Seridó e é de lá que me resgatou a memória. Me lembrei do menino que colocava pedras no tumulo toda vez que no cemiterio ia.
Lembrei das estorias de uma tia. De não comer carne de porco ou de animais "carregados", somente galinha e de gado com todo sangue retirado.
A benção sobre a cabeça como fazia minha vó. Lembranças de um menino que nasceu no seridó.
jamais pensei em um dia encontrar
vestigios do sítio do meu trisavô que se chamava Soá.
Esse sítio ainda existe por lá.
Registra a memoria de um velho que chegou naquela região,
Terra tão seca e devastada... uma tragédia então.
SHOA ou SOÁ como chamavam o português, que daquelas terras ele fez nova morada por lá.
E assim do nada passando-se o tempo chama-se a alma através do vento e eis que o sangue alto começa a falar... Eu quero voltar , preciso voltar..

Fabio F. Fonseca

Anônimo disse...

CHOREI

Myrian Abecassis Faber disse...

Maravilhoso! Sentimentos,verdades e lamentos. Orgulho-me de descender dos pioneiros Judeus na Amazônia

Ricardo disse...

Eu só posso agradecer por fazer lembrar que ainda existimos, e que não somos só, e somente só personagens da história judaica no Brasil!

Meu muito obrigado!